domingo, 14 de junho de 2009

Estas crianças deixam-me a pensar

A P., uma menina de 11 anos, está triste e preocupada. Terminou agora o 6º ano e a mãe quer que mude de escola.
A escola onde está lecciona até ao 9º ano, o que quer dizer que pode continuar, mas ao mesmo tempo que mais cedo ou mais tarde vai ter de mudar. Tentei explicar-lho. Disse-lhe, ainda, que devia aproveitar o facto de algumas amiguinhas mudarem e ir também. Que faz parte, tem de ser e que assim custa menos. Mas nada a convenceu.
Tem explicação para tudo. Grande parte do seu pensamento não faz muito sentido a quem já tem mais experiência. A inocência predomina sempre nestes casos.
As amigas não vão deixar de ser amigas. Vão lá a casa alguns fins de semana, ela vai vê-las de vez em quando à saída da escola, qualquer coisa. É possível manter a amizade e as coisas não mudarem com a distancia.
Mentira P.. Ou melhor é possível, mas dá trabalho e é muito difícil nesta fase. As coisas só por si mudam com a distância e ausência de convivência, de partilha. Também já pensei que não, mas não é assim. É uma fase em que se fazem novos amigos, tem-se experiências novas e algumas delas bastante fortes, os sentimentos andam a mil. As meninas gostam de ter alguém em quem confiam sempre a seu lado. Uma amiga que esteja presente nestes momentos, que conheça os amores de perto, acompanhe e viva todas as alegrias e tristezas. Há um circulo de amigos onde não se está integrado. Tanta coisa. E depois, as pessoas mudam. Por vezes deixa de haver identificação e surgem algumas divergências nos gostos e interesses.
Tem esperanças que a escola possa integrar o secundário até terminar o seu ensino básico e fica satisfeita por saber que alguns amigos ficam, mesmo não sendo os melhores.
Talvez não saiba que aos anos, centenas de anos, que é assim. Aquela escola só tem aulas até ao 9º ano. Sempre foi assim. Não acredito que mude agora e disse-lho.
Nada a demove. No fundo acho que sabe a verdade, é uma criança esperta, mas prefere não arriscar. O medo da mudança e da incerteza do que pode vir são maiores. Prefere continuar onde se sente segura e sabe que gosta. No fim da conversa já dizia "Nem que seja só mais um ano".
P., ninguém muda assim a meio. Só em alguns casos particulares. Não se importa. Vai continuar a chatear a mãe. As férias de Verão vão ser passadas nisto. Pensei dizer-lhe que as inscrições são feitas no começo das férias, mas já não tive coragem.

Reportei a incerteza da P. para a minha dimensão e a verdade é que percebi que também sou um bocadinho assim noutras situações, dúvidas, medos, problemas (crescemos e eles crescem connosco. Ainda bem que só tenho 1,65m. Vá srs e sras gigantes, gozem agora comigo!). Não sou tão 'cega' ou inocente como ela, mas...

Ainda não descobri se vale a pena adiar uma mudança. Se atrasar uma dor não a aumenta ainda mais.