segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Principezinho

- Vem brincar comigo - propôs o principezinho. - Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente - disse a raposa. - Tu não és para mim senão um menino inteiramente igual a cem mil outros meninos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
- Começo a compreender - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor... tenho a impressão que estou preso a ela...
- É bem possível - disse a raposa. - Vê-se cada coisa na terra...
(...)
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. (...)
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o princepezinho:
- Por favor… cativa-me! - disse ela.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho. - Mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. (...) Os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. - Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... São precisos rituais.
- O que é um ritual? - Perguntou o princepezinho.
- É uma coisa muito esquecida também - disse a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. (...)
(...)
Foi assim que o pricipezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa. - Ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não te queria fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Pois quis - disse a raposa
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
(...)
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos...
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Ficas responsável para sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.